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A gourmetização da preguiça

12 de dezembro de 2023

 

Que a gente gosta de usar palavras de outros idiomas não é segredo para ninguém. O mundo corporativo, por exemplo, está cheio de estrangeirismos não é de hoje.

Termos como feedback, KPI, B2B, B2C, budget, call, benchmarking, brainstorm, core business, deadline, follow up, gap, insight, invite, meeting, mindset, networking, stakeholders, target, assessment, burnout, business partner, employee experience, headcount, headhunter, home office, soft skills, hard skills, turnover e outros tantos são repetidos todos os dias nos corredores das empresas, mesmo que as pessoas não façam a mínima ideia do que estão dizendo ou sequer pratiquem o que falam.

Não me entenda mal. Não vejo nenhum problema em escolher um jeito mais bonito ou sofisticado de dizer alguma coisa, seja por aspectos culturais, respeito autoral, estratégia de marketing ou simples preferência.

A questão para mim é quando isso começa a ser utilizado para validação de péssimos hábitos, como se trouxesse certo glamour ou fundamento para comportamentos que deveriam, na verdade, ser desincentivados.

Vou te dar um exemplo.

Estamos vivendo uma revolução nas relações de trabalho, muito por conta do choque entre profissionais de diferentes gerações nos corredores das empresas.

Nascidos em épocas diferentes, e, portanto, submetidos a contextos sociais e discursos completamente distintos, cada um defende que a relação com o trabalho e a carreira devem ser conduzidos à sua maneira. 

Nesse contexto, a chamada Geração Z, formada pelas pessoas nascidas entre os anos de 1990 e 2010, e que, portanto, tem entre 13 e 33 anos de idade atualmente, está frequentemente sacudindo as estruturas da relação profissional como a conhecemos.

Por serem os primeiros nascidos totalmente na era da tecnologia e só conhecerem o mundo que existe após esse período, questionam padrões preestabelecidos e redefinem as prioridades ligadas a carreira e vida profissional, o que leva ao surgimento, de tempos em tempos, de algumas tendências que atingem o ambiente de trabalho.

Um exemplo disso é o comportamento coletivo liderado pela geração mais jovem de trabalhadores chamado de “quiet quiting”, cujo significado pode ser traduzido como “saída silenciosa” ou “renúncia silenciosa”.

Na prática, o funcionário adepto a essa tendência não faz absolutamente nada além do que prevê a descrição do seu cargo, ou seja, se limita apenas às tarefas descritas e se recusa a fazer qualquer coisa que esteja além disso.

Esse movimento surgiu durante a pandemia da Covid-19, que levou as pessoas, entre outras coisas, a questionar as prioridades da vida e a relação com o trabalho.

Entendo que o mundo muda e nossa interpretação desse mistério que é a vida vai mudando junto com ele. Coisas que são importantes em determinada época da nossa vida deixam de fazer sentido em outra, e vice-versa.

Mas alguns princípios fundamentais do funcionamento da vida jamais se alteram. Nós é que deixamos de dar a importância devida a eles.

Existe aquele famoso dito popular que diz que “Deus escreve certo por linhas tortas”. Não acredito nisso. Deus não escreve torto de jeito nenhum, a gente é que lê torto, porque nos tornamos míopes por nossas convicções e supostas certezas absolutas, carências afetivas mal administradas e comportamentos negativos que desenvolvemos para chamar a atenção.

E é exatamente por isso que deixamos de perceber os padrões que fazem com que a vida vá para frente profissionalmente.

É normal questionar o que já existia quando você chegou, tentar renovar o que não lhe parece adequado ao tempo moderno e oferecer respostas novas para novos desafios, mas algumas coisas jamais deixarão de fazer sentido.

O trabalho duro como caminho de preparação para enfrentar a vida real e para alcançar o sucesso profissional, por exemplo.

Em qualquer lugar do mundo, em qualquer época e em qualquer contexto histórico, todas as pessoas que alcançaram sucesso profissional trabalharam duro para construí-lo.

Tiveram que trabalhar mais que os outros, estudar mais que os outros, se sacrificar mais que os outros, suportar mais que os outros, calar mais que os outros, persistir mais que os outros, apanhar mais que os outros e se levantar mais que os outros.

Tiveram que curtir menos que os outros, descansar menos que os outros, reclamar menos que os outros, dar menos desculpas que os outros, ter menos amigos que os outros, dormir menos que os outros e se vitimizar menos que os outros.

E o principal, não aderiram a tendências negativas.

Vá em frente...escolha a sua inspiração e pesquise direito sua história de vida e descubra por si mesmo o quanto de trabalho duro há em sua jornada.

Você tem o direito de expressar suas opiniões e questionar o que entende que não está certo no mundo. Todos podemos e devemos ser ativos neste aspecto, em prol de um mundo um pouco melhor para se viver.

Mas não é com falta de comprometimento no trabalho, preguiça, passividade e desengajamento que você vai conseguir isso, mesmo que arrume um nome sofisticado para chamar o que está fazendo.

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